segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Era uma vez, dois passarinhos


Era uma vez, um casalzinho de passarinhos apaixonados.
Ele se chamava Dinho, era forte, vigoroso, bonitão  e muito trabalhador.
Iza, era o nome dela, toda meiga, delicada, vaidosa e muito bonita também.
Eles conheceram-se por acaso, mas logo ficaram encantados um pelo outro.





Dinho já era comprometido, e logo tratou de desfazer o namoro, que muito breve resultaria em casamento.
Iza, nem acreditou que isso seria possível, mas logo teve a confirmação de que Dinho já estava livre e desimpedido para namorá-la.



Iza tinha dois irmãos, José e Juvino e também duas irmãs, Leninha e Ivete. Iza era a filha do meio. Era muito querida pelos irmãos, pois sempre fazia o papel de conciliadora entre os irmãos. Compreensiva, sabia ouvir sempre as duas partes e dar razão a quem tivesse razão.

Os pais de Iza, Dona Zezé e Seu Mundinho, eram bastante severos, era o que se ouvia falar pelas redondezas.
Mas na verdade, não era bem assim... 
Dona Zezé, sim, era muito mais durona, braba e mal humorada.
Quem via Dona Zezé assim, pequenina e ligeirinha, não poderia imaginar que ela era uma mãe tão valente e mandona. Difícil mesmo era conseguir arrancar um sorriso dela.
Pelo visto, as aparências enganam. Enganam, sim!
Já Seu Mundinho, pai de Iza, era alto e grandalhão, mas tinha o sorriso fácil e bonachão. Nas redondezas todos gostavam de prosear com ele e ouvir sempre as boas histórias que ele costumava contar, com aquela voz rouca e pausada.

Dinho tinha dois irmãos e uma irmã: Orísio, Maria e Quidinho. Eles moravam com uma tia, Dona Nélia, uma vez que os pais já haviam falecido, quando eles ainda eram pequeninos. Coisas da vida...
Dona Nélia era um doce em forma de passarinho. Muito simpática e prendada, cuidava dos sobrinhos como se fossem filhos de verdade.
Gostava de cantarolar enquanto cozinhava e também fazia lindos bordados e roupinhas em crochê. Os três irmãos, Dinho, Maria e Quidinho eram muito unidos e companheiros. Aprenderam a enfrentar a dureza da vida desde muito pequenos, mas seguiam felizes pela vida afora, aprendendo aqui e acolá as lições de todos os dias.

Dia após dia, Dinho e Iza seguiram namorando, mas já sonhavam em construir o seu próprio ninho de amor e ter muitos filhos. Assim, apesar de muito jovens, logo decidiram casar.

Iza já estava começando a dar seus próprios voos, aprendeu a arte de tecer fios e já estava trabalhando perto de casa. Não faltavam pretendentes e pássaros admiradores de sua belezura.
Quando ela seguia a caminho do trabalho, havia muitos pássaros que ficavam de olho, pois estavam interessados nela. 
Dinho, muito cuidadoso e ciumento, não estava muito satisfeito com essa situação, por isso, decidiu que ela não mais precisaria trabalhar. Prometeu para ela que trabalharia para cuidar dela para o resto da vida.
Ela achou aquilo um pouco exagerado, mas, concordou. Então, apressou-se em organizar o enxoval para casar logo. 
Foram muitos preparativos até o dia do casório.


Com a ajuda de suas irmãs Leninha e Ivete e de sua cunhada Maria, Iza logo tratou de providenciar o traje para o casamento. Como já era de se imaginar, o vestido da noivinha ficou primoroso: todo delicado,  rendadinho, cheio de florzinhas. Dinho também estava elegante: arrumou um terno branco de linho com o seu melhor amigo, queria fazer bonito também!

No dia do casamento, a natureza preparou uma surpresa: chuva, muita chuva ...
Iza ficou nervosa e desesperada. Como os convidados conseguiriam sair de casa, enfrentar aquele dilúvio e voarem até o local casamento?
- Ò, Deus! Por que justo hoje está caindo toda essa chuvarada? - Lamentava-se Iza.
As horas passavam rapidamente, e a chuva não parava.
Por onde se via, muitos alagamentos, árvores encharcadas, folhas pelo chão, passarinhos acabrunhados dentro de seus ninhos.


Com medo que o casório desse em água, Dinho apressou-se em pegar a maior folha que seu bico poderia carregar e voou na direção do ninho dos pais da noiva. 
Queria buscar a sua amada a qualquer custo!
Tamanho foi o sorriso de Iza, quando ela avistou Dinho na porta do ninho...
Ela nem sequer lembrou da antiga superstição de que o noivo não pode ver a noiva antes da cerimônia...

De repente, um lindo arco-íris cruzou o céu... 
Era uma trégua da chuva para permitir uma linda cerimônia.
A família inteira resolveu apressar os últimos retoques nas vestimentas para voar rapidinho para o local da cerimônia. Um local lindo, no alto da colina. Um caminho margeado por grandes árvores e minúsculas flores.
Lá chegando, os noivinhos puderam perceber que o povoado inteirinho já estava lá.Todos subiram a colina com chuva e tudo. 
Atrasadinhos mesmo, só estavam os noivos.

A cerimônia foi encantadora. Todos se emocionaram de verdade. Iza estava linda, radiante em seu vestido de noiva e laçarote no cabelo e véu comprido. Dinho estava todo elegante e orgulhoso demais. Aliás, não tinha como ser diferente, eles estavam vivendo o dia mais feliz de todos os dias já vividos. Estavam realizando um sonho.

Se já fosse o final da história, poderíamos dizer: "e foram felizes para sempre", mas ainda há muito que se contar sobre o desenrolar dessa felicidade.

Construíram juntos um novo e lindo ninho de amor. 
Iza sempre muito prendada e cuidadosa com as coisas da casa. Tudo impecável, limpo e organizado. Ela também  cozinhava comidinhas maravilhosas, embora não fosse essa sua atividade predileta.

Dinho, sempre muito trabalhador, se esforçava para merecer novas oportunidades de crescimento no trabalho. Saía de casa muito cedo para trabalhar e só retornava à noitinha.
Muito dedicado e inteligente, sempre se interessava em aprender coisas novas, por isso sempre despertou a atenção de seus chefes e mentores, o que lhe rendeu boas oportunidades, porém não menos esforços.

Aos poucos foram chegando os filhos do casal, cinco ao todo.
Dinho, muito orgulhoso e mandão, resolveu que os nomes dos filhos seriam parte do seu próprio nome:

  • Inho-1
  • Inho-2
  • Inho-3
  • Inha-1
  • Inha-2

Foi nessa ordem que eles chegaram: primeiro dois meninos, Inho-1 e Inho-2, depois nasceu uma menina, Inha-1.
Mais algum tempo se passou e a família voltou a crescer ... Nasceu Inho-3 e, por último, quando eles menos esperavam, nasceu a caçula, Inha-2.

Era bem confuso da hora de reunir e chamar os filhotes, um troca-troca de nomes daqueles, mas, aos poucos, todo mundo foi se acostumando com essa fileirinha-inha.

Foi assim que surgiu uma família bem harmoniosa. Crianças bonitas, sadias e muito inteligentes.
Quando cresceram, os filhotes trataram de alçar seus próprios voos, concluíram seus estudos, casaram-se e, claro, aumentaram a família de passarinhos.

Depois que todos os filhos construíram seus próprios ninhos, alguns pelas redondezas e outros um pouco mais distantes, o casal Dinho e Iza retornou à vida de pombinhos. O ninho ficou vazio e enorme. Os quartos continuaram com as caminhas de sempre, à espera de quem quisesse chegar para uma visita mais prolongada, uma soneca nos antigos aposentos.
O ninho só não ficou completamente vazio porque vez ou outra chegavam os netinhos passarinhos, fazendo o maior barulho e trazendo mais alegria para o ninho.

O tempo passou e o amor desse lindo casal apenas se multiplicou.

Iza continuava a cuidar de Dinho com toda dedicação: preparando a comidinha de todos os dias, cuidando de suas roupas, separando sua toalha e apetrechos a cada banho, organizando a cama e os travesseiros para que tivesse sempre um boa noite de descanso, estando sempre alerta ao primeiro sinal de desconfortos e indisposições para lhe oferecer o melhor remédio. Mas, em todas as situações o melhor remédio sempre foi mesmo o amor.

Dinho, por sua vez, continuava a protegê-la e cercá-la de carinho por todos os lados.
Ele nem se dava conta, mas tinha muito ciúme dela. 
Tudo que dizia respeito a Iza, tinha que ser provido por ele: a comida que comprava, os móveis da casa, as roupas que usava, os remédios de que necessitava, absolutamente, tudo.
Ao menor sinal de carinho, amor e atenção por parte de outros dirigidos a Iza, já era o suficiente para deixá-lo irritado, ou melhor, enciumado.
Se dependesse de Dinho, qualquer presente que Iza recebia das amigas, vizinhas e até mesmo dos filhos, deveria ser rejeitado, devolvido na mesma hora. 
Na hora de receber o presente, tudo parecia bem. Depois, quando os dois ficavam sozinhos, Dinho começava a brigar com Iza, reclamando e botando defeito em tudo.
Isso tudo era excesso de cuidado, zelo ao extremo, amor demais. Desejo de protegê-la a qualquer custo.
Dinho sempre foi responsável e provedor da casa, não permitindo que as coisas mais básicas e importantes faltassem à família, ao lar do casal.
Ele sempre se orgulhou de ter uma personalidade forte e batalhadora e do prestigio de ter o poder e o domínio dos assuntos relativos à sua família. 
Esse jeito autoritário de ser, de certo modo, delimitou o seu território por todos os caminhos e lugares onde esteve, tornando-se assim uma espécie de marca registrada.

Iza, ao contrário, sempre foi firme com os assuntos domésticos e com a educação dos filhos. Esse sempre foi o espaço dela. 
Também sempre foi vaidosa, gostando de manter a aparência bem cuidada, roupas  discretas e elegantes e um perfume inconfundível, porém os seus desejos pessoais sempre ficaram em segundo plano, por isso nunca demonstrou grandes aspirações., embora, em seu íntimo as tivesse.
Às vezes ela até queria se entusiasmar com a possibilidade de um passeio, com os presentes recebidos, mas ficava com receio de magoar o seu amor e acabava deixando pra lá... 
Foram anos e anos de convivência desse jeitinho: ela sempre quis agradá-lo, nunca foi de enfrentá-lo ou contrariá-lo. 
Assim, eles combinaram a convivência.

Atualmente, passados anos e anos de vida em comum, Dinho e Iza estão velhinhos, já comemoraram  muitas bodas e continuam firmes, demonstrando muito prazer em estar um na companhia do outro.
Às vezes, Dinho não consegue compreender bem o que Iza fala. 
A audição dele já não é a mesma ... Ela pode até ficar brava e ele nem se dá conta ... Mas se for uma palavrinha de amor, bem que ele ouve!
Por outro lado, Dinho fala umas coisas para Iza, faz queixas da idade, reclama da vida, ela ouve, entende, mas daqui a algum tempinho, ela já nem lembra mais. Está esquecidinha... Porém as memórias do amor vivido por eles, estão bem vivas no coraçãozinho dela.

Nas tardes de verão, enquanto se refrescam, gostam de ficar pousados no galho, observando a natureza ao redor do ninho: o movimento e o canto de outros pássaros, os animaizinhos que passeiam por lá, como saguis, lagartixas, abelhas e formigas. Também gostam de admirar as folhas que se renovam nas árvores vizinhas, trazendo o frescor da vida, os raios de sol que fazem trilhas por entre os galhos num jogo que revela e esconde as frutas maduras que estão por lá: mangas, jambos, jacas e goiabas. 


Nas tardes chuvosas, eles mal querem sair do ninho.  Preferem dormir até mais tarde, abraçadinhos para espantar o frio. No fim da tarde, arriscam botar o bico do lado de fora, só para ver a água limpinha da chuva que cai do céu, lava todas as folhas e renovam o verde das árvores da redondeza.

Esse amor, sim, é motivo de inveja para muitos pássaros, que, ainda hoje, passam por lá e veem aquele velho ninho ainda de pé, abrigando o casalzinho de velhos passarinhos apaixonados, do tipo "feitos um para o outro". De longe já se vê que um completa o outro; que a vida de um dá sentido à vida do outro e vice-versa. 

Amor para sempre, amor.





Moral da história: 
Passarinhos, que desejam construir um verdadeiro ninho de amor, podem até utilizar hastes aparentemente frágeis, delicadas, porém devem saber fortalecê-las, entrelaçando-as com porções diárias de compreensão, respeito e amor. Felizes são os que habitam um ninho assim.



Um segredinho:
Você pode até achar que essa história veio da minha imaginação. Em parte, sim. 
Mas o roteiro é verdadeiro em sua essência e, na realidade, é uma homenagem, pois tem protagonistas bem especiais para minha vida.
E sabe de onde veio a inspiração? 
Veio dos meus pais: BranDINHO  e ZIZA, que em setembro/2020 completaram 72 anos de união.

Lindos passarinhos, não é mesmo?



Imagens: Google

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10 comentários:

  1. Que linda história, Dete! São pássaros raros. Parabéns ao casal! Bj

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    1. Verdade. São raros e muito especiais demais. Obrigada pelo carinho!

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  2. Adorei os passarinhos, que história linda a de Sr. Brandinho e Dona Ziza. Desejo que Deus continue abençoando-os e que sirvam de exemplo para outros casais que desejam construir um amor e um lar cheio de carinho,respeito e cumplicidade!! Um grande abraço!!

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    1. Melhor coisa é viver essa história no dia a dia, conhecer os bastidores e poder dividir um pouquinho disso para que sirva de exemplo e inspiração. Obrigada pelo carinho de sua mensagem. Grande abraço!

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  3. Uma linda e verdadeira história de amor, de vida, de exemplo e de muita união.
    Sou muito grata a Deus por ter compartilhado desse ninho. Feliz por Dinho ter depositado em mim, a confiança de deixar Iza voar ao meu lado pra colher flores para enfeitar sua vida, seu ninho. Ainda hoje desfruto do amor sincero e verdadeiro desse casal de passarinhos que aprendi a amar como filha do coração e onde encontrei o abrigo debaixo de asas quentinhas e aconchegantes.
    Dinho e Iza, amo vocês mil milhões.
    Parabéns, Inha 2, por descrever com tanto amor essa linda história de vida.
    Amei❣️❣️❣️❣️

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    1. Quel, você é muito querida e saiba que você tem um lugar especial na vida e no coração deles. E são tantos os momentos de convívio... daria uma nova história! Agradeço de coração suas carinhosas palavras. Beijo grande pra você!

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  4. Que linda história e verdadeira que ainda a torna mais especial. Deus que abençoe esses protagonistas desta linda história de amor.

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    1. Amém! Realmente Deus não economizou nadinha em matéria do amor demonstrado através do nosso casal de "passarinhos". Agradeço demais por você ter dedicado um tempinho para ler até o final e deixado suas impressões aqui. Isso é valiosíssimo para mim. Grande abraço!

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  5. ❣️❣️❣️❣️❣️❣️❣️
    As ilustrações estão belíssimas💓💓
    São perfeitas❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️
    Foi Dan?

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    1. Obrigada, Quel!
      As ilustrações foram construídas pela mãe de
      Dan (kkkk), com a ajuda das imagens do Google.
      Também gostei do resultado. Deu um charminho todo especial ao conto de fadas, né?

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