quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Pulando uma fogueira



E a vida mandou um aviso pra mim:

" Olha lá, hein mocinha! Você tá indo na direção errada.

Bora fazer diferente?"





Era junho/2022 e eu estava fazendo um dos últimos exames para completar a bateria dos exames periódicos solicitados pela empresa em que trabalho. Justo no teste ergométrico, deu uma alteração. Durante o exame, o médico fez uma cara de poucos amigos, mas me disse para levar o resultado para o meu cardiologista, que ele iria me orientar sobre o que fazer. Aguardei mais alguns minutos e lá fui para a consulta com o cardiologista, Dr. Ricardo. Ele olhou o resultado do teste ergométrico, ficou de pé, olhou o exame novamente e falou: ok.

Eu perguntei: - Ok, doutor? É isso que o senhor tem a me dizer? O outro médico me falou que tinha uma alteração ...

Ele falou: - Ok, eu quis dizer, entendi o que ele (o outro médico) quis me mostrar.

Então, ele me disse que eu deveria fazer uma cintilografia para avaliar melhor o quadro e prescreveu dois medicamentos. Marquei a cintilografia de imediato e consegui agenda para a semana seguinte. No dia marcado, fui lá e fiz a cintilografia, tranquilamente. Não senti nada. Fiz o processo completo na esteira, com contraste e tudo mais. Um exame muito longo. Quase quatro horas de duração. Enfim, no dia seguinte, o resultado ficou pronto. Li o relatório da cintilografia, vi que tinha alteração, mas não fazia ideia do significado. No dia seguinte, marquei a consulta de retorno para apresentação desse resultado, que seria 18 dias depois.

Segui a vida. Naquele dia era o niver do meu esposo e saímos para jantar e comemorar em família, como de costume. na volta pra casa, teve bolinho e tudo mais.

Três dias depois, estava no trabalho e comecei a sentir algo estranho: um incomodo inespecífico no peito. Uma sensação de ardência, porém geladinha. Não sabia se tinha origem no estômago, se tinha sido alguma comida que não me caiu bem... Enfim, algo muito estranho mesmo. Trabalhei o dia inteiro, fui pra casa. Aferi a pressão. Estava 11 x 6, o que era bastante normal. Resolvi tomar um chá antes de dormir.

Vencida pelo cansaço, consegui dormir. Acordei no dia seguinte, ainda sentindo o mesmo desconforto. Ao chegar ao trabalho, procurei o serviço médico Pressão 12 x 8. Durante a consulta com o médico clínico, um anjo que me aconselhou certinho,  debulhei tudo que estava sentindo e tentei explicar até o que eu não estava sabendo explicar. Mostrei o resultado da cintilografia e falei que ainda não havia mostrado para o cardiologista, porque a consulta seria só no dia 04 de julho. Até comentei com ele que não sabia se eu estava tendo uma crise de ansiedade, até porque eu nunca tive crise de ansiedade e não sei exatamente o que é, nem como é. Estávamos ainda no dia 21/06. O médico clínico, então, me aconselhou a tentar falar com o cardiologista, ou com a secretária dele, no intuito de antecipar a consulta e, caso não conseguisse, seria melhor procurar um serviço de urgência cardiológica para que os exames fossem avaliados por um especialista. Afinal estávamos às vésperas do São João e durante os festejos juninos, a cidade fica vazia. Ele me disse mais. Disse que não podemos negligenciar sinais assim, e é melhor pecar pelo excesso. Lembro o caso do Bussunda, que saiu nos noticiários há um tempo atrás, a que não foi possível socorrer. Choque de realidade. Era isso que precisava ouvir e ter a certeza de que não era uma crise de ansiedade. 
Agradeci  a ele pela orientação, voltei ao trabalho e no final do expediente, fui para casa, peguei os exames e fui ao hospital para ser avaliada por um cardiologista.

Mal dei entrada no hospital e nem terminei de preencher a ficha de admissão. Fui logo conduzida a uma sala de atendimento de urgência e começaram os exames e monitoramento: pressão, oxigenação, exame de sangue, raio x. Tomei remédio para baixar a pressão e fiquei deitada esperando os resultados, porque a essa altura, a pressão já estava nas alturas mesmo!

Tentando fingir costume e achar que logo logo eu iria pra casa, no fundo sabia que alguma coisa tava errada... tava muito errada. 

O médico plantonista não passava a menor segurança. 

Ele perguntava uma coisa e escrevia outra. Perguntava de novo, saía, voltava e perguntava a mesma coisa, porque não tinha anotado ou tinha anotado errado. 

-Você é diabética? 

-Não 

- Hipertensa? 

- Não  

Daqui cinco minutos, eu ouvi  o médico falando com alguém ao telefone: 

O médico: - Estou com a paciente Ildete, diabética, hipertensa ... 

E eu: - Ops! 

Falei pro meu esposo: 

-Vai ali e fala pra aquele médico que ele está passando meus dados errados. Ouvi ele dizer que sou hipertensa e diabética. 

Meu esposo foi lá e falou com o médico... 

E o médico, com cara de sono, falou: - Eu disse que ela é diabética e hipertensa? Desculpe, devo ter me enganado... Vou corrigir agora mesmo.


Dá pra acreditar? Como você pode ver, o cenário não era dos melhores...

O fato é que no meio da madrugada, saíram todos os resultados dos exames preliminares e veio a notícia de que eu deveria ficar internada para mais exames e investigação. 

Agora a bomba: internada na UTI. 

Um susto pra mim e pro meu esposo. 




Eu, assustada: - Como assim, UTI, doutor? Precisa tudo isso?

E  o médico:  - Sim, precisamos monitorar. Você deve ficar ligada aos aparelhos que vão acompanhar sua pressão, seus batimentos cardíacos, oxigenação, etc.


Era a fogueira de São João que começava a queimar e 
eu não tinha noção de que teria que pular essa...

Resolvidos os trâmites de documentação e autorização do plano médico, fui transferida para a UTI Geral no meio da madrugada. Um lugar esquisito, abarrotado de aparelhos e um layout muito confuso, com muitos carrinhos de medicação e instrumentos pelo meio da sala, além daqueles cestos enormes para descarte de lixo e material hospitalar.

Assim que cheguei, fui acomodada num box entre cortinas. Vieram 2 enfermeiros me organizar, já providenciando eletrocardiograma e novo raio X. A pior parte: trocar minha roupa por uma bata de TNT, e não mais poder descer da cama pra ir fazer xixi. Fazer o nr 2?  Só de pensar, já travei! 

Foi preciso uma manobra e ajuda de uma enfermeira para conseguir fazer o xixi no aparador. Que sufoco! Depois, uma médica veio me ver e disse que iria botar uma medicação no soro e que eu tentasse relaxar. Imagine, relaxar num lugar assim!

Meu esposo não poderia ficar lá na UTI comigo, então, entrou, me viu já "organizada" e foi pra casa. Ficou de voltar na manhã seguinte.

Eu não sabia que poderia ficar com o celular, até porque não poderia ficar sacola com pertences pessoais. Só depois a enfermeira me avisou que poderia ficar como celular...

Então, me vi no mato sem cachorro! 


Não tinha o que fazer, senão tentar dormir. A medicação ajudou e eu dei um cochilo de papo pra cima, toda ligada por fios e ouvindo o barulho irritante do bip bip do monitor que ficava acima da minha cabeça. Horrível!

Amanheceu o dia, dava pra ver uma fresta de claridade por uma janelinha bem no alto da parede atrás de mim. 

E já acordei com a moça do laboratório que veio colher sangue novamente e em seguida um médico, trazendo um equipamento para fazer o ecocardiograma.

Depois desse reboliço todo a enfermeira me ofereceu o café da manhã. 

Como!? Se eu não tinha lavado o rosto, nem escovado os dentes e estava morrendo de sono!!

Tentei dormir mais um pouco e quando acordei, por volta das 9 horas (eu acho),  lá estava a enfermeira Marli pra me ajudar. Ela desenrolou um kit higiene e me trouxe um pouco de água pra fazer uma mini higiene. Isso já deu um alívio... Santa Marli!

Consegui comer parte do café da manhã. O café mesmo, nem pensar. Estava gelado!

Fiquei ali, observando o vai e vem de profissionais, tentando compreender um pouco do que acontecia ali naquele ambiente caótico para mim. Já tinha ocorrido troca de plantão, então a maioria eram outros profissionais. Eu não saberia mesmo reconhecê-los por trás de máscara, óculos, jaleco, avental. Uma ou outra voz me soava familiar, mas não tinha certeza de nada de quem era médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, fisioterapeuta, etc...Pra mim, era tudo igual. Difícil! Eu continuava muito perdida.

Depois ouvi uma conversa da enfermeira ao telefone, dizendo que eu iria ser transferida para a UTI Coronariana. Hã? Por que isso? Será que meu quadro estava ainda mais grave?

A médica plantonista passou pra me ver e eu perguntei sobre isso. Ela confirmou e explicou que eu deveria ter ido direto pra a UTI Coronariana, mas como não tinha vaga, fui colocada na UTI Geral. Disse ainda que para mim seria melhor estar na UTI Coronariana, porque todos os médicos são cardiologistas e lá meu quadro poderia ser definido com maior rapidez.

O enfermeiro, para descontrair, falou que eu iria gostar de ir pra lá, a UTI Dubai. 

Como assim, Dubai? 


Aí ele explicou: a UTI Coronariana já foi reformada e é muito chique, tipo Dubai!

No meio disso tudo minha irmã, Ildene, chegou ao hospital e o enfermeiro autorizou a entrada dela lá na UTI, já que é médica. Contei pra ela a história de como tudo aconteceu e ela foi se inteirar com o chefe da enfermagem sobre os próximos passos, já que a médica de plantão não estava na sala ... Devia estar cochilando na salinha particular...

Passaram-se algumas horas até que a transferência para a UTI Coronariana acontecesse.

Realmente um lugar bastante diferente. Muito organizado, silencioso. Os boxes onde os pacientes ficavam eram mini apartamentos, com um porta larga voltada para o balcão central, onde ficam os médicos e enfermeiros. Fazia muito sentido ser chamada de Dubai...

Lá chegando, começaram todas as medições novamente. Entra enfermeira, entra médico, e novos interrogatórios para eu contar a história desde o princípio.

A todo momento, eu explicava que, antes de tudo, eu era paciente do Dr. Ricardo, médico da clínica de cardiologia da casa. Mas o tal médico nunca apareceu. Apareceu um outro cardiologista, Dr. Daniel, dizendo que iria me acompanhar e que fazia parte da equipe dele. Disse que tinha visto todos os exames e que iria solicitar um cateterismo de imediato, para que fosse feito o mais breve possível para investigar melhor os achados reportados no eco cardiograma. e encontrar a razão para o desconforto no peito.

Pedi pra ele me explicar direitinho o que é e como seria feito o tal cateterismo, pois, ouço muito falar (tipo caviar, sabe?), mas não tinha a menor ideia do que era exatamente.

Ele me explicou que seria um exame, feito sob sedação, com uma micro câmera para investigar possíveis obstruções no coração. Que seria usado um catéter bem fininho, pelo braço ou pela virilha, o que fosse mais viável.

É assustador? É. Mas, fazer o que? Tinha que encarar, né? A ficha ainda estava no meio do caminho. Eu não entendia muito tudo aquilo que estava acontecendo, mas... simbora!

Nesse momento, meu esposo chegou e minha irmã que estava comigo, foi embora.

Aparentemente, eu estava bem. Almocei normalmente e a médica do plantão me liberou para ir ao banheiro, no carrinho de banho, com auxilio da enfermeira. Isso já foi um grande alívio, poder tomar um banho rápido e fazer xixi no vaso.

Quando a médica plantonista veio me ver, Dra. Silvia, já entrou com um astral maravilhoso e uma empatia muito grande. Fez as perguntas de forma bastante interessada na minha história. Perguntou sobre a vida, sobre o meu momento, sobre as preocupações, enfim, sobre muitas coisas. Inevitavelmente falei pra ela sobre a coincidência ( coincidência?) de estar no mesmo hospital em que minha mãe passou seus últimos dias há um ano, e que era impossível não correlacionar isso. Falei também sobre o meu pai com 98 anos à época e tudo que ele está enfrentando para superar a partida da minha mãe. Enfim, me emocionei. Não tinha como não me emocionar. 

Então, ela se aproximou de mim, perguntou minha religião e disse que era católica também e perguntou se eu conhecia a Oração do Poder, e começou a rezar de forma bem pausada e suave. Um momento lindo!

Agradeci pela oração e ela me disse que essa oração faz parte da vida dela, em todos os momentos em que ela mais precisa, e que tem um poder enorme. Que eu poderia procurar na internet, para ler com calma. 

Quanto ao procedimento previsto para 12 h do dia seguinte, ela disse que tudo daria certo e que ela estaria ali para o que eu precisasse.

Foi um momento inesquecível e muito forte! 

A gente não imagina que por trás de tantos profissionais ocupados, apressados, paramentados existe gente. Existem pessoas empáticas, solidárias e capazes de gestos tão generosos, que fazem toda diferença no processo de reabilitação do paciente. Certamente, ela me fez sentir melhor, mais confiante.

Imediatamente, quando ela saiu da sala, peguei o celular e pesquisei a Oração do Poder.

Aqui está:

Oração do Poder de Deus

Deus, Senhor de toda a força e poder, dá-me hoje a segurança do teu amor e a certeza de que estás comigo. Peço ajuda e proteção nesta hora tão difícil de minha vida. Preciso de tua assistência, do teu amor e de tua misericórdia. Tira de mim o medo, tira de mim esta dúvida, esclarecendo o meu espírito abatido, com a luz que iluminou o teu divino filho Jesus Cristo, aqui na Terra. Que eu possa perceber toda a grandeza e tua presença em mim, soprando o teu espírito dentro de mim, para que eu me sinta fortalecido com a tua presença em minha vida, hora por hora, minuto por minuto. Que eu sinta o teu espírito e tua voz dentro de mim e ao meu redor, em minhas decisões e no decorrer deste dia. Que eu sinta o teu maravilhoso poder pela oração e com este poder, espero pelos milagres que podes realizar em favor dos meus problemas. Não me deixe cair, levanta meu espírito, quando me encontrar abatido. Entrego-te neste dia a minha vida e de minha família. Livra-me de minhas moléstias ainda que seja por milagre. Obrigado meu mestre, meu Senhor, meu irmão e meu amigo. Sei que vás me dar a solução de que tanto preciso e desejo. Amém!

Como você pode observar, não é uma oração tão pequena e a médica rezou todinha, com a maior paciência e demonstração de fé.

Coisas de Deus, mesmo!



Nem preciso dizer que depois dessa oração, chorei bastante e demorei alguns minutos para me recompor. Mas foi uma boa carga de energia para me fortalecer, sem dúvida!  Na mesma hora pensei: teria sido um anjo enviado pela minha mãezinha, para se fazer presente naquele momento difícil? Penso que sim. Prefiro acreditar e seguir por esse caminho.

Seguiram, então, os preparativos para o tal exame no dia seguinte. Próximo passo: zerar a dieta.

Nesse noite, houve uma chuva muito forte em Recife. Lá dentro, eu não fazia a menor ideia disso, mas vi pela TV. Os deslocamentos na cidade estavam muito prejudicados. Meu esposo demorou mais de 2 horas para se deslocar do bairro de São José até o hospital. O que em condições normais demoraria pouco mais de 15 minutos.

Por essa razão, muitos profissionais do hospital não conseguiram chegar para a troca de plantão. Lembro da enfermeira chefe ter sido uma das que tiveram que dobrar o plantão e, por volta das 4;30 h ela, mesmo exausta, sentou na poltrona ao lado da minha cama e ficou conversando e me apressando para eu comer logo o café da manhã que teria que ser consumido antes das 5 da manhã por causa do jejum necessário ao exame. O cansaço era visível no rosto dela, mas ela estava ali, conversando comigo.

Todos os trâmites seguidos, fui liberada por Dra Silvia para um banho (com direito a lavar os cabelos) no meio da manhã, como parte dos preparativos para o exame. No horário combinado, fui levada ao bloco cirúrgico. Dra. Silvia me acompanhou até a porta da UTI e me desejou boa sorte e disse que estaria esperando o meu retorno. Minha irmã estava comigo. Na saída para o bloco cirúrgico, a médica anestesista veio me acompanhando e me fazendo mil perguntas durante o caminho. Falava pelos cotovelos. Contei tudo pra ela em ritmo acelerado.

Chegando no bloco, o médico cirurgião veio falar comigo, explicou como seria o exame e que, caso encontrasse algum "achado" e  que fosse possível tratar, que já faria o tratamento. Ele perguntou se havia algum parente comigo, falei que minha irmã estava lá fora e ele foi falar com ela.

Começando o procedimento, a anestesista aplicou a sedação que me fez sentir os olhos pesados. Um sono meio acordado. Era dia 23/06, véspera de São João e eu ouvia, ao longe, o falatório dos profissionais, anestesista, cirurgião e enfermeiros sobre a programação de São João, quem iria viajar pro interior, etc.. No início, de olhos fechados, meus braços estavam amarrados na mesa. Eu ainda ouvia algumas vozes e lembro que senti uma coisa ardendo, entrando pelo meu braço direito e falei: -Ei, estou sentindo isso aí!  Seria a tal fogueira que eu teria que pular?  

E assim passaram-se cerca de 90 minutos. Assunto resolvido. Fiquei ainda na sala de cirurgia até melhorar o efeito da anestesia. O medico explicou que encontrou uma obstrução e fez a angioplastia colocando um stent.  Mostrou o video do procedimento para minha irmã e meu esposo, explicou o que fez e me desejou boa sorte.

Curativo apertadinho e
a pulseira laranja
"Risco de Queda"
Voltei para a UTI, para cumprir o protocolo. No punho direito, havia um curativo muito, muitíssimo apertado, que incomodou bastante, principalmente durante a noite. Não poderia folgar, para não haver sangramento. Tive que tomar um analgésico para conseguir dormir.

No dia seguinte, tive alta para o apartamento. Tomei uma medicação para expelir o contraste que foi aplicado durante o exame, o que me fez ir ao banheiro fazer xixi de hora em hora.

Nesse dia, meu acompanhante era meu filho, Dan, que ficava me seguindo de perto, todas as vezes que eu levantava para ir ao banheiro.

Eu estava toda animadinha, achando que já estava próximo o dia de ir pra casa. Mas, que nada!

À noite senti uma dor no peito. Dessa vez era realmente uma dor no peito. Conseguia apontar onde estava localizada a dor, no lado esquerdo do peito, parte inferior, diferentemente de quando eu lá cheguei, que não sabia explicar nada. Mandei chamar enfermeira chefe, que chamou o cardiologista de plantão. Fez eletrocardiograma, colheu sangue para novos exames. Me deram uma medicação. Como a dor voltou a ocorrer na madrugada, fui enviada de novo pra UTI, para um novo protocolo para investigar dor torácica.

Em pleno Sábado à Noite, e eu voltando para a UTI!

O pobre do meu marido ficou pálido, quase tendo um treco ao saber que iríamos enfrentar tudo isso de novo.

La na UTI Geral, o povo começou a me reconhecer.

-A senhora esteve aqui esta semana, não foi ? Eu lembro da senhora ... 

Meu Deus! Até que foi uma boa acolhida, mas pensar que lá estava eu voltando à estaca zero outra vez, era desesperador.

Mas, vamos lá! Medicação pra dor e nova sessão de exames. 

Detalhe: a informação sobre diabetes e hipertensão continuava vivinha na minha ficha,  desde o registro que o médico fez na minha admissão. Imagine quantas medições de glicose eu fiz desnecessariamente!

Enfim, quando a dor passou, apaguei!

Acordei com uma cena , hoje posso dizer, hilária. 
Era domingo e acordei com uma reza em alto e bom som.  

Pensei: - Será que morri? Ou o vizinho morreu e tem um padre rezando aqui dentro?

Abri os olhos e vi a TV ligada com o volume nas alturas...  Como pode isso numa UTI, gente? Em seguida processei que era a missa do Pe Marcelo Rossi, que estava cantando: "Erguei as mãos e dai glória a Deus..." Catei os óculos embaixo do travesseiro e me certifiquei de que era mesmo a TV...

 Ufa! Estou viva!

Hoje dá pra rir disso, mas na hora foi bem sinistro.

Durante o dia, a saga foi esperar o cardiologista para decidir o que seria feito comigo.

Era domingo. Meu esposo passou a tarde e início da noite comigo. Ao sair do hospital, foi direto ao aeroporto buscar meu filho, Diego, que chegava de SP, ja bastante preocupado com tudo que estava acontecendo comigo, essas idas e vindas da UTI, do tipo: "Fica rico, fica pobre!"

E aí, mais um evento inusitado: o aeroporto de Recife estava com falha no sistema de iluminação, e por isso os voos de chegada estavam sendo desviados para outros aeroportos. No caso, o meu filho foi desembarcar em João Pessoa. Para quem estava querendo chegar rápido, isso atrapalhou um pouquinho. O coitado só chegou a Recife no meio da madrugada, num ônibus fretado pela companhia aérea.

No dia seguinte, meu quadro de dor foi estabilizado com ajuste da medicação e o médico decidiu me mandar para o apartamento novamente para aguardar autorização para fazer uma ressonância, coisa que o plano de saúde estava fazendo algumas exigências para liberar. O médico fez um laudo explicativo e finalmente o exame foi autorizado para o dia seguinte.

Quando meu filho chegou ao hospital, era perto da hora do almoço e eu já estava nos preparativos para ser transferida para um novo apartamento.

O exame seria feito no dia seguinte e precisaria de um dia inteiro de jejum,  para realizar o exame no fim da tarde. Isso foi uma tortura! Estava sentindo incomodo no peito, não sei se por causa da ansiedade, pela falta dos remédios que foram suspensos pelo jejum, e também por encarar um atraso de mais de duas horas para realizar o exame. 

Nesse dia, recebi a visita de Anne, minha amiga, que ficou comigo a tarde inteira e, de certo modo, me ajudou a passar o tempo mais rápido. Mas, mesmo assim, os ponteiros do relógio pareciam não sair do lugar e a espera continuava longa e eu, com fome!

Você sabe que, quando a pessoa está com fome não tem muito filtro na língua, então, eu já estava querendo fazer barraco por qualquer coisa.

O exame que estava previsto para 16;30 h só foi realizado quase às 19 h. Mandei meu filho ligar para a ouvidoria para reclamar.

Ai a enfermeira veio me perguntar se eu conseguiria fazer o exame sem anestesia e para isso precisaria assinar um documento. Como eu iria responder isso, se nunca fiz esse tipo de exame? Falei que não. Isso já estava me irritando , porque fui questionada mais de vez sobre isso... Que saco! 

O hospital quer economizar retirando os custos com anestesista e o paciente que se ferre com isso! Finalmente fui levada para a sala de exame. Lá chegando, mais uma vez a historia da anestesia... Ai, meus sais!!! Vesti a bata para o exame e calcei os sapatinhos de TNT , que escorregam pra caramba! Finalmente um funcionário da clínica de imagem veio me chamar para o exame. Ficou ele lá na porta  e eu sentada na recepção toda paramentada.

Ele disse:  - Venha, Dona Ildete!

E eu, chateadíssima, fui logo dando um baile : - Venha me buscar! Estou aqui com um monte de pulseiras no braço alertando "risco de queda", e você quer que eu vá sozinha? 

Ou seja, já dei logo o tom da irritação que me consumia.

Ele (coitado!) respondeu:  - Vou, sim!

E veio me buscar.

Essa cena rendeu boas gargalhadas depois. Meu filho, Diego, que assistiu a tudo, comentou: Pense numa paciente chata e invocada!

     Na sala iluminada do exame, uma imagem linda no teto. Flor de cerejeira. Talvez essa imagem tenha realmente me ajudado a ficar um pouco mais calma. 

     O exame foi bem chato, estressante. Acabei fazendo sem anestesia, depois que a médica anestesista me explicou como seria e fez um experimento, me deixando dentro do tubo para ver como eu reagiria. Não foi fácil ficar prendendo e soltando a respiração durante mais de uma hora, prestando atenção a um comando de voz através do fone de ouvido, além de tudo espremida dentro do tubo. Sensação horrível. Me atrapalhei algumas vezes, mas consegui fazer. Ao final, sair daquela sala de exame foi um grande alívio!

Finalmente voltei para o apartamento e logo veio a comida! Comida! Comida! Quase 9 horas da noite e eu estava passada de fome, sem comer desde as 5 da manhã. Depois que comi, sosseguei e consegui dormir. Foi um dia exaustivo.

No dia seguinte, aguardava a visita do médico para decidir os próximos passos.

Dei umas voltas pelo corredor do hospital com a ajuda da fisioterapeuta e passei em frente ao apartamento em que minha mãe ficou no ano passado, nessa mesma época de final de junho. Isso mexeu muito comigo. Difícil demais estar ali de novo e lembrar de momentos tão difíceis que passei ali, acompanhando de pertinho os últimos dias de vida dela. Mas, eu procurava pensar que passar por isso teria alguma razão, algum motivo.

Quando o médico chegou, fez um apanhado de todos os exames e decidiu me dar alta. Foram 9 dias no hospital e pareceu uma eternidade, tamanha a movimentação e o turbilhão de emoções que vivi por lá. 

Fui para casa num finalzinho de tarde chuvoso. Estava feliz por um lado e bastante insegura com tudo que aconteceu. Sem saber como administrar aquele monte de remédios que tornou-se parte da minha rotina. Sem entender direito o porquê ainda sentia uma dor esquisita no peito, ora ardência, ora sensação de peso. Não queria sentir aquilo. Se estava tudo bem com o coração, se o procedimento da angioplastia estava certinho, sem alterações, por que então eu estava sentindo essas coisas estranhas?

Pular fogueira não é tão fácil quanto parece. Não basta medir a distância e abrir as pernas num salto. É preciso reunir forças, mesmo aquelas que a gente nem imagina que tem e deixar o medo de lado e enfrentar o calor do fogo, sabendo que queimaduras poderão ocorrer no caminho.

Passado o caso, vamos às lições disso tudo.

Primeiro, acredito que foi um grande livramento. Embora não tenha sido verbalizado durante a internação, tive um infarto, que foi remediado a tempo. Graças a Deus, superei esse obstáculo, pulei a fogueira, e  estou aqui contando a história  para você.

Como tantos casos que a gente ouve falar por aí, poderia ter sido fatal. Os sinais são confusos e difíceis de interpretar. Podem ser facilmente ignorados ou interpretados como alguma enfermidade sem relevância. Mas como você pode observar, o assunto é sério e deve ser tratado como tal.

Recebi sinais, mas não sabia interpretá-los. Percebê-los já foi grande coisa. Busquei ajuda. Encontrei verdadeiros anjos, que foram providenciais ao me mostrar o caminho. Seguraram as minhas mãos e me conduziram a outras mãos que puderam socorrer meu coração,  minha vida.

As causas podem ter sido várias: estresse, sedentarismo, alimentação inadequada. 

Some-se a isso, a instabilidade hormonal e metabólica de um processo de pré-menopausa, associada ao processo de luto pela perda da minha mãe em julho/2021 e a intensificação dos cuidados com o meu pai, 98 anos, para superar tamanha perda. Além disso, tive Covid em fevereiro/2022. Se houve participação da Covid nesse processo, não sei. Mas, pelo que se lê nas pesquisas mundo afora, existe alguma possibilidade. O fato é que até então, eu não apresentava problema cardiológico algum.


Recebi uma nova chance de vida, um respiro, um presente. 

Gratidão a Deus por isso!

Moral da história: Preciso mudar o meu caminhar,

pois devo ter missões a cumprir ainda! 



A partir daí, tornou-se imperioso mudar algumas condutas na minha vida, rever as prioridades, prestar mais atenção na minha saúde física e mental, procurar reduzir o estresse, melhorar a alimentação, viver melhor.

Para falar a verdade, a ficha foi caindo aos poucos. 

Os primeiros três meses que se seguiram a esse episódio foram muito difíceis. Idas frequentes ao cardiologista, para melhor compreender tudo que aconteceu comigo e receber as orientações adequadas para seguir em frente. Foi preciso adaptação à medicação diária, e aprender a conviver com a instabilidade emocional e muita insegurança deixada pelo trauma. Foi um grande desafio voltar ao trabalho e encontrar forças e coragem para praticar atividade física, mesmo com receio de passar mal. Além disso, o medo me deixou um tanto quanto paranoica para tentar interpretar os sinais do meu corpo e reencontrar a possibilidade de estar bem outra vez. Para isso, estou num processo de,  reeducação alimentar, dieta sob orientação de nutricionista, com o intuito de deixar quilinhos para trás, ficar mais levinha e dar menos trabalho ao coração. Assim espero!





Estou dando passos nesse novo caminho. 

Sigo aprendendo a viver.


Agradecimento especial a todos os profissionais de saúde, 

que estiveram comigo nessa jornada e aos meus familiares e amigos,

pelo apoio e cuidados tão necessários à minha recuperação. 

Obrigada!


Fonte: As imagens utilizadas são oriundas do Google.


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19 comentários:

  1. Cada fase da vida tem um obstáculo e lições aprendidas. O mais importante é saber absorver as informações e processá-las de forma positiva e evolutiva. Talvez esse episódio esteja fazendo um marco na história, algo que deve mudar o rumo da vida um pouco e pensar por outros caminhos. E quanto a Dra que acalmou, certeza que era um enviado de vovó! Beijos, Diego!

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    1. Sim, meu filho! É esse o principal ensinamento que trago dessa vivência. Não tem sido fácil, mas sigo tentando melhorar. Beijos

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    2. E quanto à vovó Ziza, tenho certeza que ela deu o seu jeitinho de estar lá comigo e me acalentou através da oração feita pela Dra.Silvia.

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  2. Ildete!! Que susto, qdo comecei a ler achei que seria uma história bobinha e engraçada. Que bom que terminou tudo bem. Não conhecia a oração da Dra Sílvia, vou aprender, adorei. Bj grande pra vcs! Daniela (dentista) 😘

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    1. Olá, querida Daniela! Procurei escrever com pitadas de humor, porque isso torna a experiência bem mais leve. A oração da Dra. Sílvia foi um momento inesquecível e graças a Deus tudo ficou bem. Em breve, vou marcar uma consulta com você, já está na hora! Beijos

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  3. Claudia Barreto19/11/2022, 14:34

    Olá...acabei de ler seu texto e me vi representada em várias partes dele. Assim como você, procurei o hospital por causa de uma dor (lombar) só que, no dia seguinte, me vi internada para fazer exames investigativos...minha história foi um pouco mais complicada porque, logo em seguida, entrei em coma e acabei passando dias na UTI e meses no hospital... Tive Sepse e, além das complicações e tratamentos, uma série de sequelas. Acredito sim que deve haver um propósito maior em tudo o que aconteceu...e espero, confiante, que possa cumprir a missão para a qual estou predestinada.

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    1. Olá, Cláudia! Obrigada por compartilhar sua experiência. Imagino o quanto deve ter sido difícil pra você passar por tudo isso durante meses. Mas, acredite, existe um propósito, sim! E Deus conduz a nossa vida em todos os detalhes. Conseguiremos cumprir nossa missão, com a permissão e orientação Dele!
      Fico à disposição, caso possa ajudar em alguma coisa. Carinhoso beijo pra você!

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  4. Bruxinha querida... Só agora soube dessa sua jornada de aprendizado !!! Amiga querida, na vida tudo é lição. Que bom que você sabe entender e fazer das experiências uma oportunidade de progresso. Sua mãezinha, com certeza, esteve e está sempre ao seu lado... Amigos são anjos e vc os tem de montão porque é muito difícil não se prender a uma criatura como você!!! Receba meu carinho e a certeza de que estará sempre presente em minhas orações. Bjus, minha linda. Fica bem... fica com Deus

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    1. Pois é... demorei um pouco a escrever por pura falta de tempo e disposição. Minha rotina teve que mudar um pouco e,como eu falei no texto, os primeiros 90 dias não foram nada fáceis... Graças a Deus, as coisas estão se organizando outra vez, só que de uma forma diferente. Estou seguindo direitinho as recomendações médicas do cardiologista, da nutricionista e também da educadora física. Acredito que estou no caminho certo. Voltar a escrever aqui no blog é algo bastante terapêutico para mim, me deixa muito feliz e, nesse caso, ainda pode servir de alerta a outras pessoas.
      Enfim, agradeço pelas palavras tão carinhosas e acolhedoras. Embora você não tenha deixado seu nome, imagino quem seja ... Todo meu carinho a você! Beijos

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  5. Experiência muito bem relatada. Um sufoco e uma benção. Bom poder contar histórias de final feliz

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    1. Obrigada, Leo! Sim, tudo acabou bem e me deixou pronta pra trilhar outros caminhos.

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  6. Experiência bem relatada apesar do susto e incertezas. O melhor é poder contar histórias de final feliz. Que venham outras....Leo chesf

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    1. Certamente virão outras histórias. Tenho muitas no forno, aguardando um tempinho de dedicação para temperá-las adequadamente e publicar no blog. Esse tema se impôs e precisou furar a fila. Precisava contar e alertar outras pessoas. Obrigada, Leo!

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  7. Minha guerreira, nada acontece por acaso, são sinais de que esse caminho tem tomar novo rumo. Graças a Deus, essa caminhada estava no inicio, deu tempo de voltar. Que Deus te ilumine sempre nessa nova caminhada. Beijos no teu coração ❤️ ❤️ ❤️

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  8. Anne, querida! Obrigada pelo carinho de sempre. Você fez parte desse processo. Foram sinais importantes e por isso sigo firme nessa nova caminhada. Beijos pra vc!

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  9. Oi, Dete! Amiga, fico feliz por você merecer uma nova chance nesta vida, e de tirar um aprendizado diante da experiência vivida.
    Como acredito que o acaso não existe, quer dizer que tens muito o que fazer e aprender nessa existência. Deus continue te abençoando! Bj no coração.

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    1. Obrigada, amiga! Também penso assim, nada disso foi por acaso. Existe um propósito maior e estou procurando seguir minha intuição, meu coração para seguir minha caminhada, com a permissão de Deus. Beijos

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  10. Detinha Glória a Deus que
    terminou tudo bem, as vezes precisamos de um susto desse,para virar a chave e mudar algumas coisas em nossa vida, estou feliz por você está bem e contando essa experiência .Norma

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    1. Amém! Deus é maravilhoso, mesmo! Às vezes, precisamos de uns chacoalhões pra encarar a vida de uma forma diferente. Obrigada Norma , pela sua visita aqui no blog e por registrar seu recadinho. Beijos

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